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Cinco costumes do mundo ultraortodoxo para entender melhor "Shtisel"

por Hanna Rosenbaum
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(Alerta, contêm Spoilers)

 

Shtisel, a série israelense que virou queridinha entre os brasileiros, é uma produção do canal de televisão israelense YES e foca nos dramas vividos por uma família fictícia de haredim (ultraortodoxos), moradores do bairro de Geula, localizado na cidade de Jerusalém. A primeira temporada da série foi ao ar em Israel no ano de 2013, mas foi só em 2018 que a série começou a ser exibida na Netflix, e foi aí que começou a virar febre em vários lugares do mundo, especialmente no Brasil. Recentemente, os produtores anunciaram que a série ganhará novos episódios. Enquanto a terceira temporada não chega, vamos explorar alguns costumes judaicos do mundo ortodoxo para entender melhor a vida de Akiva, Shulem e dos outros personagens. 

 

 

1.    Shiduch

 

A série israelense gira em torno dos conflitos na vida de Akiva Shtisel, jovem haredi que sofre uma enorme pressão familiar para se casar logo. Para isso, é necessário que ele vá a encontros arranjados com moças que também sejam ortodoxas. Mas como funciona isso? O processo de shiduch é uma espécie de casamento arranjado na ortodoxia judaica, um shadchan ou uma shadchanit, como são chamados as responsáveis por organizar o encontro entre um homem e uma mulher (ou casamenteiros), fazem uma investigação sobre o perfil de cada jovem, suas famílias e costumes para saber exatamente quem combina com quem. Ao perceber que dois jovens têm uma boa compatibilidade, o shadchan ou a shadchanit aciona as famílias para que marquem um encontro entre os dois. 

 

O encontro acontece em algum lugar público, muitas vezes em cafés,  em algum tipo de parque ou no lobby de hotéis, que é o ponto de encontro favorito do jovem Akiva. Caso o casal goste, continua a sair mais algumas vezes (geralmente, não por muito tempo) até que decida se casar. Contudo, qualquer tipo de contato físico só acontecerá depois do casamento.   

 

O shiduch é levado muito a sério nas comunidades ultraortodoxas e a tradição milenar de casamentos arranjados continua até hoje na maioria delas, os casamenteiros são vistos com muito prestígio.

 

 

2.    Animais de estimação

Quem viu as temporadas de Shtisel, deve ter visto que o Shulem, pai de Akiva, não quer que seu neto tenha um animal de estimação. Mas por quê? A Halachá, lei judaica, não proíbe ter animais oficialmente, mas há algumas regras que fazem a maioria dos ortodoxos evitarem isso:

1) A lei proíbe que um dono coma qualquer tipo de alimento antes de alimentar seu próprio animal. Isso, na prática, quer dizer que não seria permitido comer o café da manhã, o almoço, e o jantar, antes de dar ao cachorro ou qualquer outro animal de estimação.

2) O Talmud, a Torá Oral, é muito específico em relação à responsabilidade com os animais: a pessoa precisa ter 100% de certeza que vai conseguir sustentá-lo.

3) As leis de Kashrut, que determinam uma alimentação específica para quem segue a lei judaica, podem ser também complicadas de conciliar com a alimentação do animal, em Pessach, a páscoa judaica na qual comemora-se o êxodo do Egito, é proibido comer qualquer tipo de alimento fermentado, além de outras restrições. Nessa data é proibido ter qualquer tipo de chametz (os alimentos fermentados) dentro de casa, e isso inclui a ração do animal.

 

Claramente os maus-tratos a qualquer bicho são estritamente proibidos. Além disso, evitar o sofrimento de um animal, em qualquer situação que seja, é lei da Torá.

3.    Luto

 

Quando a mãe do Shulem morre, vemos algumas cenas em que ele e seu irmão, ficam em casa para receber consolos em sua casa, depois do enterro. Mas o que significa estar de luto no judaísmo? A religião judaica fornece ferramentas para lidar com a dor da perda, o processo, que é doloroso para qualquer um, deve ser levado a sério para que o enlutado possa reconhecer e expressar todos os estágios de sua dor.  

O luto judaico, a avelut em hebraico, possui cinco diferentes estágios que direcionam a dor de diferentes maneiras, gradualmente: o primeiro, chamado de aninut, é o período entre a morte do ente querido até o enterro, momento em que a dor é desesperadora e chocante, e todas as obrigações sociais são canceladas, juntamente com obrigações religiosas, em respeito ao sentimento do enlutado.

O próximo estágio é o período de três dias após o funeral, esses dias são dedicados apenas ao choro e lamento. Os enlutados ficam em casa e nem mesmo respondem aos cumprimentos de visitas, é como se ainda fosse cedo demais para receber consolo.

O terceiro estágio, chamado shivá, é um período de sete dias seguidos, logo após o enterro (incluindo os três primeiros), em que o enlutado recebe visitas em casa, senta-se num lugar baixo para receber os consolos e tem algumas proibições como tomar banho, se arrumar, usar sapatos de couro, ouvir música e outras mais. Nestes sete dias, as pessoas têm o costume de visitar os enlutados e dizer palavras de consolo, isso é considerado um grande mérito na lei judaica.

Após o período da Shivá, o enlutado entra no 4º estágio do luto, que são os 30 dias após o enterro, o shloshim, quando a pessoa ainda não está completamente aliviada do luto mas deve sair de casa para romper com o estágio anterior da tristeza, mesmo mantendo alguns costumes do luto como a proibição de festejar, ouvir música e usar roupas novas, ainda é um período dedicado ao lamento. Ao final dos 30 dias, o enlutado é encorajado a retomar suas atividades sociais, seguindo para o quinto e último estágio do luto. Esse último período, que dura 11 meses, serve para o enlutado se recompor e digerir a tristeza, voltando aos poucos se tornam rotina, porém os sentimentos do enlutado ainda estão feridos pela ruptura de seu relacionamento com um parente. Ao final deste último estágio, o período de doze meses, não se espera que a pessoa continue com seu luto, exceto por alguns momentos necessários de memória. 

Desde o primeiro dia de luto, até o final de 12 meses, o enlutado recita uma reza chamada Kadish, a reza, que vem da palavra kadosh, que significa sagrado em hebraico, é conhecida como uma oração pelos mortos, e apesar das palavras não se referirem à morte ou ao luto nenhuma vez, estudiosos da mística judaica alegam que a cada kadish recitado, a alma do falecido se eleva a um nível espiritual mais alto. O kadish é uma expressão pública de fé em D’us por parte do enlutado e apesar da tristeza e revolta do momento, uma submissão ao divino diante da incapacidade de racionalizar a tragédia.

 

Em todos esses estágios do luto, o judaísmo trata com sensibilidade a dor do enlutado para que ele possa se reerguer da tristeza, pouco a pouco, e voltar a viver uma vida com força e resiliência, normalmente.

 

4.    Peiot

 

A maioria dos personagens de Shtisel usam dois cachinhos do lado da cabeça e muita gente deve ser perguntar: o que é isso?

O nome dos cachinhos é peiot, a palavra vem do plural de peá, que significa borda em hebraico. Muitos homens da comunidade ultraortodoxa usam as peiot por interpretarem uma lei da Torá, que proíbe raspar os pelos laterais do rosto, muito ao pé da letra, e por isso, preferem manter os pelos sem cortar. Há muitas maneiras de usar as peiot, alguns enrolam na orelha, outros prendem no chapéu e maioria enrola os cabelos para ficar com os cachos perfeitamente ajeitados.

 

 

5. Bençãos 

 

Você alguma vez se perguntou por que raios as personagens de Shtisel recitam alguma coisa todas as vezes que vão tomar água ou comer o que quer que seja? Pois bem, o judaísmo tem uma reza para tudo o que você puder pensar. A religião acredita que recitar bênçãos antes e depois de atividades mundanas, podem ajudar a revelar a santidade no mundo, então muitos ortodoxos proferem bênçãos para a maioria das atividades do dia a dia, além de situações inusitadas. 

 

Por exemplo, recitar uma bênção, brachá em hebraico, antes de comer ou beber, demonstra na pessoa, o reconhecimento de que a terra e todas as outras coisas que a habitam, pertencem a D'us, e que D'us é visto como a fonte de tudo o que a pessoa está comendo ou bebendo naquele momento. Na ortodoxia, as muitas bênçãos são recitadas em diversas ocasiões, como ver um arco-íris no meio da estrada ou vestir uma roupa nova -- ou beber um simples copo de água e comer pão, como fazem os personagens da série. Ainda há o costume de fazer as bênçãos em voz alta, para que alguém que esteja perto possa ouvir e falar amém, uma espécie de confirmação daquela reza. Interessante, não?  

 

Agora estamos mais preparados para a nova temporada. Já estamos ansiosos!

 

 

 

 

Referência: Chabad.org

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